A tecnologia está diariamente presente na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, desde que acordamos até a hora de dormir, quando damos aquela última olhadinha no smartphone ou no tablet.
Além disso, carregamos esses aparelhos para todos os lados e constantemente os conferimos, seja para verificar os emails, ver mensagens do WhatsApp, acessar as redes socais ou nos distrair com joguinhos. Quase 80% das pessoas checam os seus celulares ao acordar, e um terço dos americanos diz preferir deixar de fazer sexo a ficar sem os seus aparelhos pessoais.
Admitindo ou não, nós nos viciamos. Fomos lenta e propositalmente viciados em tecnologias das mais variadas formas que hoje estão presentes em nosso cotidiano – um hábito já enraizado nas rotinas de milhões de pessoas.
De acordo com o pesquisador Nir Eyal, autor do livro "Hooked: How to Build Habit-Forming Products" (que pode ser traduzido como "Viciado: Como Construir Produtos que Formam Hábitos"), as empresas identificam em nós o potencial de um novo hábito e tiram proveito disso. No vídeo abaixo (em inglês), é possível conferir mais sobre os conceitos apresentados por Eyal:
Por exemplo, é estimado que 40% das nossas ações realizadas diariamente são movidas por puro hábito, seja consciente ou inconscientemente. E muitas pessoas se tornam dependentes de determinados costumes, como conferir as notificações do Facebook e os próprios emails, já que podem perder algo urgente e interessante a todo o momento.
O lado bom e o lado ruim
É claro que a tecnologia e os apps trazem inúmeros benefícios para as nossas vidas, como nos conectar às pessoas distantes, porém também ficamos presos às suas funções. De acordo com Paul Graham, investidor do Vale do Silício, é muito provável que o mundo fique mais viciado nos próximos 40 anos do que nos últimos 40 – e tudo isso ocorre devido a um mecanismo capaz de desenvolver novos hábitos em nós (e que as empresas conhecem muito bem).
Essas sensações são manipuladas para que o público fique fiel às empresas e utilize os seus produtos mais e mais. Eyal diz que quer que as pessoas ganhem mais autonomia sobre suas vidas em vez de serem somente controladas pela tecnologia – algo que o livro escrito por ele pretende esclarecer, abrindo os olhos das pessoas para as influências ao nosso redor.
O ciclo do vício
Para um produto se tornar um hábito, ele deve seguir um ciclo de uso chamado por Eyal de Hook. Essas etapas fisgam o usuário e fazem com que ele volte ao aparelho, app, jogo etc. A dinâmica capaz de criar o vício é dividida em quatro fases: gatilho, ação, recompensa esporádica e investimento. O gatilho, que pode ser interno ou externo, é responsável por criar a vontade de utilizar o produto, algo que pode ser acionado através de um momento de tédio, solidão ou ansiedade (interno) ou ao recebermos as notificações (externo).
O segundo passo é a ação, quando acessamos de fato aplicativos como Facebook e Instagram (estamos em busca de interação e, de algum modo, fugindo da realidade momentânea). Ao utilizarmos esses apps, temos recompensas imprecisas, já que não sabemos quais conteúdos vamos encontrar: quais fotos, que tipos de mensagens, se vamos ter novos likes ou não em nossas postagens etc.
É através das recompensas, diretamente associadas aos gatilhos, que os vícios se formam. Quando temos algum tipo de ação e reação somos impelidos a voltar e fazer o mesmo processo. E o fato de a recompensa ser sempre variável e imprevisível faz com que as experiências não sejam monótonas, pois sempre acrescentam algo novo.
Vivendo em função da tecnologia
A última etapa de todas é o investimento, quando gastamos tempo e esforços com essas ferramentas. Por exemplo, muitas pessoas só registram fotos porque querem postá-las no Instagram ou no Facebook. As imagens são editadas, pensamos em legendas, esperamos comentários – tudo em prol de um aplicativo, permitindo que o ciclo seja recriado desde o início e se retroalimente constantemente. É um novo hábito que você cumprirá todos os dias.
E assim se estamos entediados acessamos o YouTube, se nos sentimos sozinhos vemos o Facebook e os perfis de amigos, se temos dúvidas sobre algo vamos ao Google – nem pensamos mais em realizar essas ações, pois elas já se transformaram em hábito e em respostas aos sentimentos que as antecedem. Para muitos, esses sites se tornaram necessários e não são somente recursos que utilizamos esporadicamente.
A maioria das pessoas não é, de fato, viciada em tais aplicativos e sites, porém faz uso de modo exagerado. O vício verdadeiro é caracterizado pela dependência compulsiva e não é algo novo (o álcool e o cigarro já viciam há décadas). Mas, de acordo com Eyal, as empresas deveriam avisar os usuários quando eles extrapolarem o uso de tais apps e serviços para ajudá-los a mudar o modo como eles têm experiências com o produto.
O fato é que, sem a formação de hábitos, o Twitter, o Facebook e o Instagram provavelmente deixariam de funcionar, pois tais empresas não investiriam milhões de dólares em publicidade para lembrar as pessoas de utilizá-los novamente. Desse modo, vemos como um produto capaz de enraizar um hábito no cotidiano dos indivíduos é poderoso e como a tecnologia está afetando diretamente as formas como nos comportamos e nos relacionamos.
No vídeo abaixo, você pode conferir um exemplo (que inclusive já publicamos aqui no TecMundo) de como os smartphones e os tablets estão presentes nos mais variados momentos do dia e como eles acabam nos tirando da realidade temporariamente:
E então, quais são as suas opiniões sobre o assunto? Você acha que a tecnologia interfere demais em nossas vidas e está afetando, talvez até mesmo negativamente, o modo como nos relacionamos uns com os outros? Comente no Fórum do TecMundo.
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